Para muito além da inteligência artificial, a Educação enfrentou árduos desafios e dilemas no ano que termina
Todo final de ano é comum olhar pra trás e ter a impressão que muita coisa séria se passou. Afinal, ao longo de 12 meses, são muitos os acontecimentos e as nuances que os acompanham. No cenário da Educação isso não é diferente: o mundo muda, e professores e instituições de ensino não podem ficar para trás. É pensando nisso que angariamos aqui a visão de 4 especialistas em Pedagogia para relembrar as temáticas de destaque da Educação em 2023.
Num ano marcado no Brasil por um novo governo – com diferenças marcantes na visão sobre a pasta educacional com relação à gestão anterior, avanços tecnológicos importantes e ao mesmo tempo assustadores – como a inteligência artificial, crise climática, ocorrências violentas no ambiente escolar e tantos outros acontecimentos importantes, as temáticas de destaque na Educação em 2023 apontadas por nosso docentes do Ecossistema BRAS Educacional são bem variadas, mas englobam sobretudo preocupações quase universais dos especialistas da área.
- Uso intencional da tecnologia no ensino
Quando se fala em ensino e tecnologia em 2023, o Chat GPT foi quem dominou o assunto. Construído com inteligência artificial, o programa desafiou professores no processo educacional, e fez com que muitas instituições de ensino e gestores “pulassem alto” e iniciassem uma verdadeira caça à ferramenta. Mas para o pedagogo e docente da UniBRAS Digital, Rafael Moreira, entre as temáticas de destaque na Educação em 2023, o foco em tecnologia na área pedagógica foi muito além da AI.
O professor entende que, passadas as necessidades da pandemia de COVID-19, em que a tecnologia prestou um importante apoio para que os processos educacionais pudessem seguir, é importante agora entender que o ensino deve estar fortemente atrelado aos recursos tecnológicos e digitais.
“Precisamos entender que a tecnologia não determina o aprendizado e a aprendizagem, mas ela contribui para isso. Atrelada ao conteúdo digital, ao livro, às atividades de extensão e paradidáticas como um todo. É o uso intencional dos recursos tecnológicos, e não só tecnologia por tecnologia”, argumenta.
Para o docente, enquanto em 2022 havia uma busca por uma identidade pós-pandêmica na Educação, nesse ano essa busca se tornou mais arrojada. Nesse sentido, ele explica que os profissionais entenderam em 2023 que se necessita ainda mais dos avanços digitais, com foco no maior acesso, contato e uso dessas tecnologias, sendo a inteligência artificial só uma desses avanços disponíveis.
“A tecnologia sempre apontou para a educação, mas seu uso ainda era muito restrito como um suporte. Hoje entendemos que é muito mais que isso, já que esse apoio deve estar atrelado a uma estratégia e ser agregado à uma prática intencional. É preciso ter maturidade para perceber que dentro dos processos educativos deve-se entrar a tecnologia, muito mais que um datashow, ou um retroprojetor”.
- Acesso às instituições de ensino
Para além da tecnologia, o docente e diretor da Faculdade UniBRAS Santa Inês, José Nilton, explica que as desigualdades sociais e econômicas dos estudantes brasileiros durante a pandemia, além de erros na gestão política da pasta em anos anteriores, evidenciaram um fosso na Educação brasileira. E é justamente nesse contexto ainda pós-pandêmico, de recuperar o que foi perdido, é que o especialista elenca esse processo de inclusão da sociedade nas instituições de ensino como uma das temáticas de destaque na Educação em 2023.
“É uma questão muito ampla. Com as questões da pandemia, houve um comprometimento das aprendizagens. Além dos problemas com relação ao acesso às tecnologias, que nem todos tinham, aqueles que tinham esse privilégio sofreram com a falta de habilidade de alguns professores para ensinarem a distância, causando muitas desistências, e o esvaziamento das instituições de ensino”, relata o especialista.
Mas se o contexto pandêmico trouxe prejuízos, em 2023 houve a oportunidade de resgate, e nesse sentido, surgiram novas oportunidades de ensino. Para José Nilton, essa retomada trouxe várias questões antes adormecidas para o debate, como a adequação por meio de novas formas de aprendizagem, a diversidade cultural e inclusão de pessoas da periferia, dos povos originários e outras minorias no processo educacional, o respeito às diferenças e a retomada dos debates sobre os fatores emocionais.
“A questão das habilidades e competências, a reinserção da academia com outra capacidade de visão, a busca pelo jovem que se afastou. Nesse sentido, 2023 nos favoreceu bastante”.
- Inteligência emocional
Que a pandemia deixou diversos ensinamentos permanentes para o campo educacional, isso não se contraria. Mas entre as temáticas de destaque na Educação em 2023, o pedagogo e docente do Centro Universitário UniFACTHUS, Bruno Inácio, cita a necessidade de se abordar a inteligência emocional entre os alunos.
O docente explica que, com o crescimento do uso de aparelhos tecnológicos, a ausência dos pais na rotina familiar, a correria no dia a dia, além do uso indevido e desregulado das tecnologias, são fatores que corroboram para que essa temática ganhe destaque na Educação.
“A pandemia coincidiu com a implantação da Base Nacional Comum Curricular, em que a inteligência emocional é apontada como uma habilidade a ser trabalhada. Ela é permanente no documento. Todos os professores, em todos os níveis da educação básica e média, precisam trabalhar esse assunto com seus alunos”, explica o docente.
Ele indica que, embora essa questão tenha ganhado muito destaque na pandemia, com todas as alterações e consequências pedagógicas que a emergência sanitária trouxe, essa necessidade ainda é imperativa e permanente. “Com o mundo globalizado, o uso frequente da tecnologia e correria da vida moderna, percebemos que uma pessoa que consegue ter essa habilidade, ela consegue lidar melhor com outras habilidades”.
- Recomposição da aprendizagem pós-pandemia
A pandemia ainda não passou, pelo menos na Educação. É por isso que, entre as temáticas de destaque na Educação em 2023, ela continua bem presente. Para a pedagoga e docente do Centro Universitário UniFACTHUS, Juliana Beatriz Teixeira, as consequências são maiores na defasagem do ensino durante a emergência sanitária, que ainda não foi sanada.
“A educação passou por momentos desafiadores e críticos, foi feito da escola um local de reaprender para todos os envolvidos. Voltamos às aulas presenciais sem entender o que ensinar aos alunos. Foram dias difíceis, mas fundamentais para pensar como recompor todas as habilidades não contempladas aos nossos alunos, e de que ponto recomeçar”, aponta a docente.
Ela explica que, a partir dessas dificuldades, exigiu-se muitos dos educadores um olhar diferenciado, direcionando cada aluno nas suas diferenças e ritmos. Olhar para esse lado individual em detrimento do coletivo é um dos desafios da retomada educacional pós-pandemia. Para Juliana, é hora de rever conceitos acadêmicos.
“A escola ressurge de modo todo especial e atento a rever conceitos acadêmicos básicos, buscando o ensino de qualidade, pensando nos conteúdos programáticos para cada ano estudado. Agora é recuperar o tempo perdido, rever as competências que devem ser alcançadas e fazer a diferença de forma individual, inclusiva e contínua, valorizando sempre o discente”.
(Texto. Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação do Ecossistema BRAS Educaciona
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