Mulheres na ciência: pesquisadoras contam suas experiências

22 de fevereiro de 2024

Elas são menos de 30% do corpo científico mundial, mas estão dispostas a mudar esse cenário

Meninos não choram, meninas são delicadas. Homens trabalham fora, enquanto mulheres cuidam da casa. Meninos de azul, meninas de rosa! Essas dicotomias foram ensinadas de geração em geração, e deixaram marcas profundas. Uma delas foi nas escolhas profissionais. Pesquisas populacionais evidenciam uma maior presença feminina em profissões consideradas “sensíveis”, enquanto maior engajamento masculino em exatas e ciências. O resultado desse quadro é um esvaziamento na presença de mulheres na ciência, fato que reflete diretamente na produção científica mundial.

É evidente que todos podem optar pela profissão com maior afinidade. A questão é quando há pressões sociais que influenciem essa escolha.  Desde a ausência de estudos cruciais sem a menor participação de mulheres, seja do lado do pesquisador ou dos pesquisados; até uma forte disparidade salarial, o vazio feminino nas áreas de pesquisa e desenvolvimento científico resulta em fortes prejuízos sociais. De olho nessa discrepância, o Unicef instituiu, em 2015, o dia 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. O objetivo é alertar e despertar reações para que tenhamos cada vez mais mulheres na ciência, revertendo o cenário atual.

Resumidas por meio da sigla com iniciais em inglês STEM – Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, essas áreas são de crucial importância para terem uma maior presença feminina, com foco em diminuir a desigualdade entre homens e mulheres. Apesar das mulheres serem maioria na Educação em várias regiões do mundo, incluindo o Brasil, elas ainda não têm suficiente representatividade nessas áreas específicas, sejam com atuação profissional ou de pesquisa. Isso se torna ainda mais relevante quando, de acordo com estudos do próprio Unicef, as STEM ocuparão 75% dos postos de trabalho em 2050.

Áreas como arquitetura, comunicação e estudos linguísticos são majoritariamente preenchidas com profissionais femininos; enquanto as engenharias, física e química mostram um forte efetivo de homens. Assim, para que alcançar a maior isonomia entre os gêneros, com cenário de maior independência financeira e melhor distribuição de renda, bens e serviços, é indispensável a presença de mulheres na ciência. 

Importante notar também que o dia instituído pelo Unicef faz uma clara referência às meninas. Isso é reflexo dos estudos realizados sobre o tema, que mostram que essa pressão assumida sobre suas escolhas vocacionais começa a ser exercida ainda na infância e adolescência. Nesse caso, torna-se importante o incentivo ao conhecimento das profissionais e a maior liberdade dada às pequenas, que na fase adulta serão peças fundamentais da maior presença de mulheres na ciência.

Cientes da nossa missão institucional como educadores, e também orgulhosos da presença feminina em nosso corpo docente e discente, angariamos aqui duas histórias de docentes do Ecossistema BRAS Educacional que atuam diretamente na área da pesquisa. Nossa intenção é refletir sobre nosso papel e incentivar a presença feminina em todos os nichos do conhecimento e profissionais. Abaixo temos relatos de mulheres na ciência!

“Eu sempre quis, era meu sonho desde criança” 



Glaucenyra Silva – pesquisadora e docente no curso de Medicina Veterinária UniBRAS Quatro Marcos 


Com o pai engenheiro, e uma imensa facilidade com as ciências exatas, a professora Glaucenyra Silva tinha tudo para seguir os mesmo passos que o genitor. Mas o amor que tinha pelos animais era um fator importante. Como na área de Medicina Veterinária a facilidade pelas contas também é um ponto forte, ela resolveu unir as duas coisas. Mas numa coisa pai e filha tiveram em comum: optaram pela docência. 

“Aos 17 anos, eu tive um problema de saúde, e não respondia muito bem aos tratamentos, um problema auto imune. Foi feita uma junta médica e me aconselharam a não cursar medicina veterinária ou transferir para outro curso, pelos riscos. Eu não aceitei e continuei meu curso”, conta a pesquisadora. 

Se inspirando no pai, Glaucenyra conta que sabia que se quisesse ser professora seria importante fazer mestrado. Por isso, durante a graduação participou de projetos de extensão e iniciação científica, para publicação de resumos e tentar vaga no mestrado depois de graduada. Daquele ponto seguiu adiante na carreira acadêmica, com mestrado e doutorado. Ela conta, inclusive, que deixou uma vaga de concurso público no Mato Grosso para assumir um doutorado na UNESP, em Jaboticabal (SP).

Após finalizar, ela voltou para o Mato Grosso, deu aulas em Barra do Garças, quando surgiu uma oportunidade de pós-doutorado em Cuiabá. Era uma forma de se aperfeiçoar em uma área que ainda não dominava, a Biologia Molecular, e também voltar para casa para ajudar a cuidar de seu pai, diagnosticado com Alzheimer.

“Eu sou muito curiosa, e gosto muito de saber o porquê das coisas. O que aconteceu, como aconteceu e como pode ser resolvido. Por isso hoje sou epidemiologista. Acho que a ciência é isso. Ela nos traz respostas e mais respostas. E isso a torna encantadora, porque não acaba. Você descobre algo hoje aqui , mas já mudou em outro aspecto e já temos que buscar uma nova resposta”, explica. 

Ao ser questionada sobre o sexismo na área, a docente expõe que a área da ciência e pesquisa pode ser realmente desafiadora para as mulheres. Além das classes serem dominadas pelos homens, na graduação ela teve dificuldade em encontrar estágio em algumas área, principalmente de grandes animais, já que havia havia forte preferência masculina. Para ela essa situação ainda não mudou, embora já esteja mais acessível. 

“Na pesquisa, por conta dos projetos, a maioria tem que ir a campo fazer coleta de material, ou em frigorífico. Essas ações são consideradas mais fáceis para homens”, conta. No entanto, Glacenyra não só foi persistente, como encoraja que meninas sigam carreira na área. “Temos capacidade, força, persistência, e contribuímos com responsabilidade, dedicação e leveza. Sigam seu sonho e persistam, O caminho é longo mas muito gratificante”.

“Desde pequena, sempre fui de muitos ‘porquês’” 


Nathalia Borges – pesquisadora, docente e coordenadora dos cursos de Fisioterapia, Educação Física e Estética e Cosmética do UniFACTHUS

Quando criança, Nathalia era curiosa e adorava fazer experimentos. Para ela, isso se projetou na sua escolha profissional, hoje pesquisadora. Já no início da sua graduação, ela se envolveu em projetos de iniciação científica, que proporcionou seu primeiro contato com a pesquisa.  “Eu me via apaixonada, não só pela oportunidade em cuidar de pessoas. Me realizava com a formação de fisioterapeuta, mas também encantada pela oportunidade em investigar e desenvolver novos tratamentos que pudessem trazer maiores benefícios aos pacientes, e melhor direcionamento para os profissionais na prática clínica”, conta.

Sua primeira pesquisa gerou excelentes resultados, e teve publicação internacional. Essa experiência foi fundamental para que a docente mergulhasse de vez no universo da ciência, se dedicando durante anos de mestrado e doutorado, e orgulhosamente se tornando pesquisadora pela USP de Ribeirão Preto (SP). Atuando em um dos maiores centros de pesquisa do país, Natalia seguiu com sua atuação em pesquisa, com várias publicações em revistas internacionais renomadas de alto fator de impacto. 

Felizmente, a docente explica que nunca houve barreiras de gênero para sua atuação como cientista, mas entende que essa não é a realidade. “Essa foi a minha experiência, mas nem sempre foi assim para as mulheres na ciência. Foram décadas e décadas para conquistar nosso espaço, e mostrar nossa competência e capacidade perante o desenvolvimento científico. Me sinto orgulhosa em fazer parte dessa história e nos dias de hoje, dentre diversas outras mulheres pesquisadoras, representar essa conquista”.

Como inspiração para meninas que queiram se engajar na Ciência, a professora cita Marie Curie, cientista francesa talentosíssima, primeira mulher a vencer um Nobel. Em sua atuação, a Marie enfrentou muitas adversidades no seu desenvolvimento de estudos, mas resistiu a todos eles. 

(Texto: Bruno Correa – Assessoria de Comunicação do Ecossistema BRAS Educacional)

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