País é referência no cenário literário internacional pela qualidade e inovação de suas obras Era uma vez um país que herdou um idioma belo e complexo, adicionou a ele sua personalidade, e fez dele arte. Essa é a história do nosso país, que hoje é responsável por mais de 70% dos falantes da língua portuguesa no mundo, e a difundiu, por meio da literatura, a todos os cantos do planeta. Celebrando o Dia Nacional do Livro, reunimos 5 clássicos da literatura brasileira com destaque mundial.
Celebrados internacionalmente, esses exemplares são a memória viva do nosso idioma, nossa cultura e influência. Muitos deles inspiraram adaptações para o audiovisual, e venderam milhares de exemplares em todo o mundo, se convertendo em clássicos da literatura brasileira com destaque mundial. Seus autores foram imortalizados no imaginário coletivo dentro e fora do Brasil.
O docente do Centro Universitário UniFACTHUS, Robert Duarte, é um forte defensor da leitura como ferramenta de formação acadêmica, de todos os tipos de leitura. Para ele, a leitura faz o aluno ser um pensador crítico e comunicador eficaz. Além disso, expõe clareza e coesão na escrita e na comunicação como um todo.
“O aluno leitor investiga, confronta e contextualiza informações, aprendendo a formular as perguntas certa. Torna-se autônomo, criativo e capaz de resolver problemas complexos. Por isso incentivar a leitura é essencial para o empoderamento acadêmico e pessoal desse aluno”, argumenta.
Pensando nos benefícios que a leitura proporciona na jornada acadêmica, e enaltecendo a muito reconhecida e premiada literatura nacional, deixamos abaixo 5 clássicos da literatura brasileira com destaque mundial.
1. Capitães da Areia, de Jorge Amado
Numa metrópole marcada pela desigualdade, menores abandonados passam por dificuldades para sobreviver e recorrem ao roubo para se alimentar, enquanto são fortemente reprimidos pela polícia, que sente prazer em puni-los pela simples condição de serem pobres. A situação se agrava por uma epidemia de varíola na cidade.
Ambientada na Salvador da década de 30, a história do livro revela uma nova face do modernismo literário brasileiro, que antes era voltado às virtudes e belezas do país, e a partir de então começa a se voltar à pauta social. Também reflete a descoberta da sociedade pela luta de classes, num contexto político marcado pelo varguismo, o trabalhismo e movimentos de esquerda.
É a obra de maior sucesso de Jorge Amado, tanto no Brasil – com mais de 4 milhões de cópias vendidas – quanto no exterior, onde foi traduzido para mais de 50 idiomas em cerca de 55 países. A obra sofreu intensa perseguição da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, e também pela ditadura militar de 1964 à 1985, sob o argumento de ser “comunista”.
Em 1971, ganhou uma adaptação no cinema americano sob o título original de “The Sandpit Generals”, de Hall Bartet. A adaptação teve distribuição proibida no Brasil e sofreu perseguição nos EUA e Europa, sendo um fracasso de bilheteria nesses países; mas teve amplo sucesso da União Soviética, com forte comoção social – sendo mencionado inclusive pelo presidente russo Vladimir Putin.
2. A Hora da Estrela, de Clarice Lispector
Uma alagoana se muda para o Rio de Janeiro em busca de oportunidade profissional, mas seu ciclo íntimo não favorece sua integração. O roteiro parece simples, mas algo de muito inesperado acontece. E é nessa quebra de expectativas que os fãs de Clarice Lispector sustentam seu fascínio, que já fez o livro ter mais de 120 edições em mais de 40 países.
A figura da autora também desperta curiosidade nos leitores. Nascida da Ucrânia em uma família judia, a família de Clarice se radicou em Recife quando a autora ainda era criança, e ela sempre se afirmou brasileira. Uma série de republicações e novas traduções de suas obras ajudaram a espalhar sua autenticidade e agregar fanáticos dentro e fora do país.
3. Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina Maria de Jesus
Uma moradora da favela, negra, mãe e catadora de papelão, reúne seus relatos em tom simultaneamente documental e literário, revelando a dura rotina de quem vive à margem da sociedade e tem a fome como constância. É nesse contexto que Carolina Maria de Jesus publica Quarto de Despejo, em 1960, e atrai uma atenção gigantesca para o que acontece na vizinhança invisível de um país cronicamente desigual.
Tendo somente dois anos de formação escolar por meio de uma instituição de ensino sem fins lucrativos, a autora impressionou o jornalista Audálio Dantas, do jornal Folha da Noite, quando foi fazer uma matéria na Favela do Canindé. Apesar da pouca formação, Carolina tinha uma leitura crítica profunda da realidade marginalizada.
Traduzida para mais de 13 idiomas e com mas de 1 milhão de cópias publicadas, o texto é uma referência quando se fala em literatura marginalizada no mundo inteiro. A edição americana traduzida por David St Clair teve mais de 50 reimpressões até 2025.
4. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
Um autor negro profundamente respeitado no Brasil de 1880 não tem outra alternativa se não escrever com excelência, e Machado de Assis não é orgulho nacional por acaso. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, o autor encarna um personagem peculiar, já falecido, que decide escrever sua autobiografia.
Nascido em uma família da elite carioca, a personagem principal relata em primeira pessoa suas sórdidas experiências no Rio de Janeiro de maneira irônica e debochada, além de profundamente pessimista. O excentrismo e ineditismo da obra a tornou singular na literatura brasileira, e a saudosa frase “ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver” se eternizou no imaginário coletivo.
Embora não exista uma estimativa oficial do número de tiragens e traduções feitas, a obra é um best-seller absoluto na literatura mundial, com uma última edição publicada nos EUA em 2024 esgotando em menos de 24 horas. Além disso, todos os livros do autor passaram por uma redescoberta recente em redes sociais tanto por leitores estrangeiros quanto novos leitores jovens.
A maneira como o autor retrata a escravidão, critica o darwinismo social e retrata o positivismo como teoria filosófica predominante na sociedade carioca representa uma vanguarda na literatura brasileira e mundial. A obra inclusive é citada como inspiração para o modernismo brasileiro, movimento literário que só surgiria mais de quatro décadas depois.
Machado de Assis também é considerado referência para outros autores latino-americanos que surgiram muito depois, como o realismo mágico presente nas obras dos argentinos Julio Cortázar e Jose Luis Borges, além de autores americanos como John Barth.
5. Vidas Secas, de Graciliano Ramos
Se os relatos das dificuldades vividas por populações do sertão nordestino habitam a memória de todos nós brasileiros, Vidas Secas, do alagoano Graciliano Ramos, é uma das obras fortemente responsáveis por isso. Com críticas sociais profundas, ideais de lutas de classes, e denúncias de desigualdades e modos de vida insustentáveis fizeram da obra imortal na literatura do país.
Centrado na rotina de retirantes do semi-árido nordestino em condições de extrema pobreza, o livro foi publicado em 1938, depois que o autor saiu da cadeia pela repressão do governo Vargas, por seu posicionamento assumidamente comunista. Narrado em terceira pessoa e estruturado em treze capítulos, o livro tem uma estrutura dramática realista.
Um dos grandes destaques é a humanização da cadela Baleia, que ao morrer sonha em acordar em um mundo cheio de preás. Esse é um dos únicos momentos do livro em que Graciliano abandona o realismo, e narra o inconsciente de um animal. Trata-se da humanização de um animal em meio a seres humanos animalizados por suas condições precárias.
Vidas Secas foi um sucesso de crítica no Brasil, e foi publicado no exterior primeiramente na Polônia e na Argentina, seguindo para dezenas de países. Em 2019, a obra já tinha mais de 140 edições no mundo todo. (Texto: Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação Ecossistema BRAS Educacional)


